quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

UBA BUDO SEDE /BUENOS AIRES




LOCALIZAÇÃO E HISTÓRIA


A roça Uba Budo localiza-se na parte leste da ilha de S. Tomé, no actual distrito de Cantagalo, perto da cidade de Santana, a 240 metros de altitude, e dista 12 quilómetros da capital. Esta roça foi fundada em 1875, pertencia à Companhia Agrícola Ultramarina e tinha como administrador geral Humberto Gomes Amorim. A roça é constituída por nove dependências, que são: Santa Clotilde, Vila Celeste, Apolónia, Clara Dias, Pedroma, Guégue, Pinheira, Uba Budo Velho(Praia) e Guégue Velho.


Vista das senzalas a partir da casa grande






IMPLANTAÇÃO

Uba Budo (sede) implanta-se em forma rectangular, com os edifícios virados para o interior, marcado este por um enorme terreiro, que dispunha no passado de uma torre sineira no centro. Servia de igual modo o terreiro de centro de actividades (como, por exemplo, as que ocorreram durante a visita, em 22 de Maio de 1954, do Presidente Francisco Higino Craveiro Lopes à ilha de São Tomé.
Entrada principal da roça

Casas de passagem

O pombal

A casa grande situa-se no eixo do terreno, sob um embasamento que a destaca do resto e é também o eixo de simetria entre dois espaços da roça: de um lado, o hospital (em ruínas), as casas de passagem que se implantam na pequena colina por detrás da casa grande, a casa dos trabalhadores brancos, a padaria, a lavandaria e o armazém, onde funcionavam a oficina de mecânica, a carpintaria e escritórios; do outro, situavam-se a capela, a casa dos capatazes, a casa do médico, a cozinha comunitária e as senzalas, as quais se implantam em banda, com quatro blocos e um pequeno terreiro, rematados por um corpo longo totalmente virado para o interior. Nota-se a ausência de aberturas para o exterior, o que limitava o terreno da propriedade, servindo igualmente o terreiro de entrada principal da roça, assinalada por um posto de vigia, com a cobertura de oito águas de espigão cruzado.


A casa grande

A escada metálica em espiral

A casa grande é, no meu ponto de vista, um exemplar distinto das casas grandes existentes na ilha, já que nela ganha evidencia um aumento de ornamentação externa e interna, um certo ecletismo no seu aspecto, fazendo referência à arquitectura neoclássica e à greco-romana, a simetria no desenho das fachadas, com emprego de novos elementos, novos materiais, como o ferro (elemento estrutural) e o gesso, e de no vos espaços no interior da casa. A casa, de planta em”L”, com dois pisos, é servida por três notáveis escadas, que dão acesso à varanda, a qual, não obstante a existência de outras na parte posterior da casa, percorre as suas fachadas formando um “U”. Esta varanda dá acesso à casa, bem como a uma sala redonda totalmente em madeira e encerada (parecida com a da roça Água-Izé)em cada topo da casa, aparecem elementos colados à varanda, já que o piso das mesmas é em madeira e a varanda é ladrilhada. A cobertura é de estrutura em madeira e coberta com telhas marselha.O sistema estrutural da casa é marcado por várias colunas toscanas com ferro embutido, por paredes em alvenaria e pisos em mosaicos, em xadrez no interior.

Vista do terreiro

Nas traseiras, no topo Este, o rés-do-chão é marcado por um espaço vazado que está em contacto com o pátio das casas dos empregados brancos, de que destaca uma escada metálica em espiral, que dá acesso ao piso superior.A partir deste espaço exterior, tem-se acesso directo à varanda do edifício ao lado, com planta em “U”, e que servia de habitação aos empregados brancos, a padaria e a lavandaria.

A senzala

A entrada principal flanqueada por senzalas

Senzalas

Senzalas

O hospital, apesar do avançado estado de degradação, era parecido com os demais da ilha: um volume longo, com um corpo central elevado e vazado com arcos abatidos ao nível térreo.


A capela

Com o passar dos tempos, com as crises e a redução dos hectares cultivados, dir-se-ia que a roça passou a funcionar como “cidade dormitório”, onde a sede era somente, na prática, um espaço habitacional e o espaço de trabalho da roça se concentrava apenas nas dependências, para onde os serviçais eram conduzidos por locomotivas, que rumavam sobretudo para a dependência Uba Budo Praia (Uba Budo Velho).
A antiga casa dos trabalhadores brancos e escritórios

A oficina
A maternidade

MONTE CAFÉ




Planta da roça e legenda


LOCALIZAÇÃO E HISTÓRIA


A roça Monte café localiza-se no centro da ilha, no actual distrito de Mé-Zochi, perto da cidade de Trindade, a 640 metros de altitude, e dista 13 quilómetros da capital. Foi fundada em 1858, por Manuel da Costa Pedreira, tendo pertencido posteriormente à Companhia de Terras de Monte Café.

Manuel da Costa Pedreira o fundador da roça

A roça está implantada numa área com clima propício para a cultura de café arábica, mas dedicava-se igualmente à produção do cacau. Foi em Monte Café que se procedeu à experiência da contratação dos coolies chineses, vindos do Macau.

Coolies chineses serviçais da roça

Formatura dos serviçais


IMPLANTAÇÃO

Monte Café, tal como diz o nome, implanta-se sobre um monte e organiza-se, de forma aleatória, à volta de um grande terreiro, com os edifícios dispostos em várias cotas servidos por rampas e escadas, distribuídos segundo uma hierarquia, em que a cota da entrada e do terreiro era limitada por muros (devido à subtracção de café e cacau) e integrava o secador, o armazém de café e uma torre sineira que marca a entrada para o seu interior.


Vista parcial do terreiro

Vista da parte mais importante da roça

O secador de café é todo construído em madeira, assumindo uma forma curiosa relativamente às de mais edificações, já que, se se tratasse de uma igreja, se poderia dizer que era composta de três naves com cobertura em chapa industrial, sendo as duas laterais mais largas e mais baixas em relação à central, que é mais estreita e mais alta.


O secador de café

O secador de café

Traseiras do secador de café

De acordo com os registos iconográficos, constata-se dinâmica na disposição dos seus equipa mentos de produção, como os secadores que tinham outra disposição no terreiro e uma forma totalmente diferente da actual.

Antiga disposição do terreiro

Antiga disposição do terreiro

Antiga disposição do terreiro

A norte, estão os escritórios, o refeitório e o armazém de alimentos dos trabalhadores brancos. Na cota mais a baixo, o corpo que faz a “torção” devido o limite do terreno, era destinado aos trabalhadores de campo (capatazes), e mais adiante, no limite do terreno, o curral e a pocilga. À sua direita, estão as senzalas dispostas em filas, que são rematadas pelo edifício destinado à cozinha comunitária dos serviçais e ao matadouro, situados próximo da cocheira, que fecha o terreiro triangular criado pela disposição dos edifícios.

Antigo armazém de café

Antigo armazém de café

A bomba de combustíveis e os escritórios

O refeitório dos trabalhadores brancos


Entrada do refeitório dos trabalhadores brancos


Uma passagem entre as Senzalas

Antigas Senzalas

Antigas Senzalas

A cocheira, curral e pocilga

Antiga Cozinha comunitária

A parte traseira do terreiro é marcada por vários edifícios, tais como armazéns (do cacau, de fermentação, do café em excesso e o forno), a creche e a garagem.

Armazém de café em excesso

O edifício que alberga a escola,antigo armazém de cacau e garagem

O edifício que alberga a escola,antigo armazém de cacau e garagem

A sul, numa cota a acima do terreiro, localiza-se a parte mais importante da roça, onde se instalam os armazéns de escolha do café, as oficinas de carpintaria e mecânica, a casa grande, a casa do chefe de escritório e a casa do administrador. A capela, que está junto ao hospital, situa-se na cota mais alta da roça.



Armazém de escolha do café, as oficinas de carpintaria e mecânica-futuro museu do café

Escadaria que faz ligação entre as duas cotas da roça

Varanda do armazém

O interior do armazém de escolha de café- futuro museu do café

O Despolpador ou catador de café

O hospital
Casa do chefe de escritório

Casa do administrador

A casa grande que se implanta em forma de “L” e se localiza de modo a ter maior controlo visual sobre o terreiro, e tem dois pisos com um torreão num dos lados da casa com varandas viradas a Este. A casa que é em alvenaria, com a estrutura da cobertura em madeira coberta com telha marselha tendo o rebordo que cobre a varanda em chapa industrial.

A casa grande

O acesso a casa é feito através de uma escada dupla, com dois lances cruzados, que dá acesso à varanda que, por sua vez, corre toda a fachada e dá acesso a diferentes cómodos da casa, culminando num pátio exterior no topo oeste do edifício, para onde estava virado um compartimento que considero ser a sala de jantar.

A casa grande

A casa grande

A casa está em avançado estado de degradação, tendo alguns dos seus compartimentos si-do ocupados pelos habitantes da roça. Uma das situações mais flagrantes e penosas que observei durante o levantamento na roça foi o uso da telha da casa grande em algumas construções anexas às senzalas.
A casa grande

O uso das telhas da casa grande nas construções anexas as senzalas