segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A SENZALA E A CAPELA




A SENZALA



Eram o abrigo dos escravos e, posteriormente, a casa dos serviçais. Sendo apenas local de abrigo e não de moradia no sentido estrito, além de se destinarem a escravos, que eram considerados tão-somente força de trabalho, entende-se a precariedade dessas edificações. No início eram quase todas em madeira e com poucas aberturas.

Senzala da roça S. João dependência da Roça Lembá

Dispõem-se normalmente em quadra e em “linha de comboio” (assemelhavam-se, neste aspecto, aos barracões de embarque de cativos da costa de África), podiam ter de 7 a 10 séries de cubículos contíguos, sendo que a parede que separa as mesmas não chega até ao tecto. A cobertura em chapa industrial (chapa de zinco), telha, chapa de lusalite lisa ou ondulada é sempre de duas águas e, em determinados casos, recorre a um sistema que se assemelha ao lanternim, uma abertura na parte superior do telhado para conseguir uma adequada iluminação e ventilação, no interior da senzala.


Cobertura da Senzala da roça Agostinho Neto/Rio do Ouro

Senzalas da roça Boa Entrada

Outras aparecem com um alpendre coberto, através do prolongamento do telhado de duas águas, com janelas e uma cozinha exterior, onde a ventilação é conseguida através de uma abertura circular na empena da senzala (Agua Izé).
Ora aparecem unidas à casa-grande (escravos utilizados no serviço doméstico) (Uba Budo praia), ora separadas, porém, sempre próximas dessas. A causa dessa proximidade era a necessidade de vigilância constante para se evitar fugas, e deste modo, das roças estudadas onde existiu tal preocupação, os vãos estão todos virados para o interior da roça (Uba Budo sede).

Senzalas da roça Monte Café


A CAPELA



A localização das capelas varia de roça para roça. Em alguns casos encontra-se num lugar de destaque e, nos noutros, encontra-se na cota intermédia da roça.
Sabendo que as capelas eram antigamente construídas perto das casas-grandes, tendo como referência algumas antigas fazendas brasileiras, no caso de São Tomé nota-se um certo distan ciamento entre esses dois corpos, o que se justifica pelo facto de o proprietário considerar a igreja como parte comum da roça, onde os escravos/serviçais podiam também assistir à missa, baptizar ou até mesmo casar. A classificação tipológica das capelas não é condicionada pelos seus elementos decorativo, mas pelos seus elementos construtivos.

Capela da roça Uba Budo Sede

As capelas foram sempre construídas com materiais mais duráveis que os utilizados nos demais edifícios da roça. As paredes, de pedra ou de tijolo, foram as técnicas preferidas.
As coberturas sempre foram executadas com estruturas de madeira, utilizando-se tesouras, caibros e ripas. A cobertura é sempre em telha de canal. Os forros, quando existiam, cingiam-se à capela-mor, eram executados em madeira e tinham a forma de abóbadas de berço. As capelas tinham torres sineiras.
Capela da roça Diogo Vaz

O aspecto arquitectónico e o nome das capelas dependia de factores como o gosto, a crença, os recursos disponíveis do proprietário e também o gosto presente entre os mestres-de-obras, na grande maioria dos casos seus projectistas e executantes.


Cabeceira da capela Nossa Senhora do Carmo da roça Agostinho Neto/Rio do Ouro

Mas não pode ser esquecida a filiação delas ao gosto lusitano presente nas capelas rurais ibéricas. Para o entender, entra também em jogo a memória dos senhores bem como a sua origem, sendo que tal situação pode influir na arquitectura dessas edificações. A se saber que a arquitectura será diferenciada no resultado, seja ela do Norte ou do Sul de Portugal.

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