quarta-feira, 25 de novembro de 2009

AGUA IZÉ /PRAIA-REI




Planta da roça e legenda




LOCALIZAÇÃO E HISTÓRIA


A roça Água-Izé (Praia-Rei) localiza-se no centro /litoral da ilha, a 13 quilómetros da capital, no actual distrito de Cantagalo, perto da cidade de Santana e foi comprada por João Maria de Sousa Almeida , em hasta pública, em conjunto com a roça Castelo do Sul, por 2000 réis cada. Estes terrenos pertenciam anteriormente a uma capela instituída por Gaspar de Araújo de Sousa, na igreja do extinto Convento dos Bentos, em Lisboa, capela de que foi último administrador António José de Almeida Velho de Lencastre Carvalho da Fonseca Camões, Visconde de Vila Nova de Souto d´El-Rei.Começou a ser explorada em 1855.

João Maria de Sousa Almeida-O Barão de Agua Izé

Em 1884, o Banco Nacional Ultramarino tomou posse da roça devido às dívidas contraídas ao mesmo banco, tendo vindo posteriormente a pertencer à Companhia União Fabril (CUF).

Vista geral da roça

A roça, que ocupa 12 quilómetros da orla costeira, ocupava uma área de 80 quilómetros quadra dos, da qual 4.800 hectares compreendiam a parte cultivada e 1.800 hectares eram ocupados pelas diferentes edificações.
Primeiro Conde e General de Brigada Claudino Augusto Carneiro de Souza e Faro.

A roça viria a ter vários administradores, dos quais o 1º Conde de Sousa e Faro, Claudino Augusto Carneiro de Sousa e Faro, seu administrador desde Março de 1895 e, a partir de 1915, o seu filho mais velho, Bernardo de Souza e Faro, que foi durante vários anos funcionário superior da Companhia da Ilha do Príncipe.





IMPLANTAÇÃO



A roça implanta-se num terreno com ligeiro declive, onde os diversos edifícios assentam em anfiteatro, tendo a baía como pano de fundo. É atravessada pela estrada nacional número 2, que anteriormente servia a linha férrea, e que exclui do conjunto os antigos armazéns.


Vista aérea da roça

A disposição dos diferentes edifícios sugere uma pequena cidade com uma malha ortogonal, dispondo de uma hierarquia de funções, que se inicia na entrada com a casa grande e vai subindo com a casa do feitor, as casas do trabalhadores brancos e termina na fileira das senzalas.


Vista geral da roça a partir do hospital

A estrada principal da roça

Edifício dos escritórios


Uma das ruas da roça

Casa do feitor e do chefe de escritórios

Antigas casas dos trabalhadores brancos casados

Uma rua da roça

Antigas casas dos trabalhadores brancos solteiros

A senzala

A senzala

Antigo Secador

Nota-se também uma clara preocupação de separação das classes sociais, como ocorre, por exemplo, com a colocação da fileira com casas dos trabalhadores brancos casados entre as casas dos trabalhadores brancos solteiros e as senzalas, de modo a evitar o “típico” contacto entre essas duas classes.

Levantamento topográfico da baía de Praia Rei

No caso da roça Água Izé, o hospital situa-se na cota mais alta, mas está fora da estrutura da roça, constituindo dois corpos que assumem uma forma invulgar relativamente às demais roças existentes na ilha.O primeiro Hospital da roça construído possivelmente em 1914

O hospital, que na sua fachada obedece às características típicas dessas infra-estruturas (um corpo longo suspenso por arcadas, dividido por outro de dois pisos, que faz de charneira entre as alas), é servido no primeiro piso por uma esbelta escadaria que dá acesso a um hall, dispondo de uma escadaria que conduz ao piso superior.


Planta do hospital da roça Agua Izé

Segue-se um corredor, que dá acesso à secretaria, à sala dos curativos, à farmácia e ao laboratório. No piso superior deste mesmo corpo, funcionava a enfermaria dos trabalhadores brancos, que era composta por quartos, casa de banho, sala de jantar, uma enfermaria e um excelente enquadramento visual para o mar, a partir do terraço.

O segundo hospital da roça

O hospital
A escadaria

O hospital entrada principal

Dado o número elevado de trabalhadores (2500 serviçais angolanos e 50 empregados europeus) existente na roça, foi necessário acrescentar mais três alas, somando-se ao todo cinco alas, que são rematadas no topo por casas de banho com cobertura em estrutura metálica, cobertas por telhas marselha. Dispõem-se de forma radial e funcionavam como enfermarias, com excepção da ala perpendicular à fachada, que tinha dois gabinetes de enfermagem (masculino e feminino), o gabinete do médico e a sala de operações.

O interior do hospital

A cobertura e miradouro do Hospital

Escada de acesso ao segundo piso antiga enfermaria dos trabalhadores brancos


A comunicação entre as alas é feita através de dois corredores: o primeiro, um corredor em semicírculo, que contorna o corpo central (o mesmo acontece na cobertura) e faz ligação com todas as alas e o segundo, que faz ligação directa entre o corpo central e a ala do gabinete do médico.
Os acessos interiores do hospital

Segundo os habitantes da roça, o primeiro hospital era o corpo que se encontra mais distante do núcleo central da roça, que se supõe ter sido construído em 1914 enquanto que o que se encontra mais próximo foi provavelmente em 1928.

O hall da entrada

A casa grande situa-se na cota mais baixa do terreno e está totalmente virada para o mar e muito próxima da estrada nacional A casa é de dois pisos, com estrutura em alvenaria, sendo o primeiro deles, na fachada principal, marcado por uma galeria com vários pilares estreitos e vários acessos aos escritórios e ao interior da casa.A fachada principal da casa grande

A galeria do rés-do-chão da fachada da casa

O interior da casa em avanço estado de degradação com a estrutura horizontal exposta

No piso superior com a estrutura horizontal em madeira com uma sub-estrutura de fixação do tecto falso do piso inferior, onde a fachada principal é servida por uma varanda que corre toda a fachada e o topo Este (virado ao secador) e que dá acesso a diferente espaços da casa que de forma curiosa estão pintados com cores diferentes.
Mas o elemento que marca o edifício é o gaveto redondo no outro extremo da casa que anterior mente era completamente encerado.

O gaveto redondo da casa

Traseiras da casa

Traseiras da casa

A casa tinha vários acessos quer pela fachada principal, quer traseiras e pelos topos, pois é um dos topos que é marcado por um passadiço superior que dá acesso ao espaço que apelido de terreiro religioso, o qual serve a capela da Nossa Senhora de Fátima (construída pelo administrador João Amaro) , a creche, a casa do medico e a casa grande.


O passadiço da casa que liga ao terreiro da igreja

Escadaria que dá acesso ao porto
A capela da Nossa Senhora de Fátima

A casa do médico

A lavandaria

Antigo porto

Nota-se a ausência de uma área de concentração e de formatura laboral onde o roceiro dirige os serviçais, como acontece noutras roças, mas de acordo com as fotos antigas, tal ocorria à frente da casa grande, perto da antiga linha férrea.
A linha férrea possuía carruagens de produção e de lazer que percorriam as várias dependências (Santo António, Quimpo, Francisco Mantero, Mato Cana, Anselmo Andrade, Claudino Faro, Bernardo Faro, Monte Belo e Ponta das Palmeiras).

Carro do Mestre, Roça Água Izé

No extremo leste localiza-se toda a maquinaria laboral da roça, composta por armazéns de cacau e copra, as estufas, a fábrica de óleo de palma, a garagem, a cocheira, a central eléctrica e as oficinas de fundição, marcenaria, serralharia e tornos.

Estufa e secador de cacau e a fabrica de óleo de palma
No interior da fabrica de Óleo de Palma, Roça Agua-Ize

Oficinas marcenaria, serralharia

Oficinas de fundição e tornos

Central eléctrica

terça-feira, 24 de novembro de 2009

AGOSTINHO NETO / RIO DO OURO




Planta da roça e legenda


LOCALIZAÇÃO E HISTÓRIA


A roça Rio do Ouro (Agostinho Neto) situa-se no norte da ilha, a 10 quilómetros da capital, no actual distrito de Lobata, perto da cidade de Guadalupe. Foi fundada, em 1865, pelo Dr. Gabriel de Bustamante e foi explorada, a partir de 1877, por José Luís Constantino Dias o Marquês de Vale Flor( nasceu em Murça, em 19 de Março em 1855 e morreu em 20 de Julho em1932, em Bad-Nauheim na Alemanha. Em 1871 emigrou para S. Tomé, e trabalhou numa casa comercial de João Maria Constantino. Em 1874 mudou se para a agricultura. Em 1877 passou a explorar a roça Agostinho Neto e em 1882 comprou a roça Boa Vista. Tornou se o maior e mais opulento agricultor de S. Tomé e Príncipe e recebeu o viscondado por decreto de 3 de Maio de 1890, o condado e o marquesado por decreto de 7 de Novembro de 1907, todos de D. Carlos I.), através de uma sociedade a que se veio a chamar Sociedade Agrícola de Vale Flor(para além desta, houve outras sociedades e companhia como: a companhia do Príncipe, a Companhia agrária ultramarina, a sociedade agrícola terras de Monte Café, a companhia Agrícola de Porto Real e Bela Vista, companhia agrícola das Neves e Colónia açoriana, Lda., Sociedade das Roças Plateau e Milagrosa, Sociedade agrícola Ribeira Funda e a Sociedade de agricultura de S. Tomé e Príncipe),tendo tido António Fonseca, como administrador, durante vários anos.

José Luís Constantino Dias o Marquês de Vale Flor

António Joaquim da Fonseca antigo administrador da roça Rio do Ouro



IMPLANTAÇÃO


A roça está implantada num terreno algo declivoso, com uma pendente aproximada de 10 metros, tendo a cota mais alta no local onde se encontram o hospital, a maternidade, o centro de pesquisa e as capelas (da Nossa Senhora do Carmo e a mortuária).Esta faz ligação a uma cota intermédia, que é marcada por um grande largo onde se encontra a Casa Grande, a Casa de passagem, as casas dos trabalhadores brancos e os escritórios, através de uma enorme rampa que é flanqueada dos dois lados por senzalas, implantadas, à medida que se vai descendo, em pequenos pátios em socalcos Existe ainda uma cota mais baixa, destinada aos armazéns, as garagens, o moedor de café, a central eléctrica e serralharia e outros serviços.

Vista aérea da roça-foto A.Maio

Voltando à cota mais alta, ganha destaque o hospital com a sua implantação em forma de “U”, marcado por um corpo central de dois pisos, que serve de hall de entrada e enfermaria no rés-do-chão e de enfermaria dos trabalhadores brancos no piso superior. Este corpo serve de charneira entre as duas alas (de um piso, mas com um pé–direito considerável), a masculina e a feminina, que são complementadas com os dois braços que compõem o “U”, onde se instalavam os refeitórios e os balneários.

O Hospital

Aspecto do Hospital no tempo colonial

O eixo estrutural da roça, o terreiro avenida

As Senzalas

Antiga Casa do Medico e o Centro de convívio

Nas traseiras do hospital, para além do espaço exterior dos doentes, constata-se a presença de dois corpos, que constituíam a maternidade e o centro de pesquisa de doenças infecto-contagiosas, cuja disposição configurava um enorme pátio (terreiro sanitário).

Em primeiro plano o centro de pesquisa de doenças infecto-contagiosas e em segundo a maternidade

A preocupação sanitária estava bem patente na configuração dos demais edifícios onde se previsse aglomeração de pessoas, como no hospital, na maternidade, nas senzalas e nos armazéns, com a adopção de lanternins ao longo da cobertura, o que facilitava a circulação de ar e a entrada de luz para o interior dos edifícios.Outro factor que se poderia inserir nessas configurações, com excepção das senzalas, seria o número e o tamanho dos vãos nas fachadas dos edifícios.
Perto do hospital, localizam-se de igual modo as capelas, a mortuária, de que actualmente só resta o piso, e a da Nossa Senhora do Carmo, que foi construída pelo administrador Fonseca, o qual a baptizou com o nome da sua mãe.

Capela da Nossa Senhora do Carmo
Capela mortuária inexistente-foto retirada em 2007

Na cota intermédia, a localização da casa grande e da casa de passagem cria certa confusão (a que designo de “paradigma da casa grande”), por tudo indicar que a casa de passagem ser a casa grande, devido à sua destacável localização no eixo da roça, em franco diálogo com o hospital, por ser servida por um grande terreiro avenida, adoptar a forma em “U”, própria das casas barrocas portuguesas. Dispunha, para além disso, nas traseiras, de um grande jardim botânico com gaiolas, onde se situavam o salão de festas e um rico museu, cuja maior parte do espólio foi transferida para o museu nacional.

Fachada da Antiga casa grande,actual casa de passagem

No interior da casa de passagem-a Sala

Traseiras da casa de passagem a partir do jardim botânico

O jardim botânico

A fonte do jardim botânico perto do salão de baile

Por outro lado, a dita casa grande implanta-se fora do eixo organizador da roça, em forma de “L”, ao lado da casa de passagem e defronte aos antigos secadores ao ar livre, actualmente transformados em pequenas hortas dos descendentes dos antigos serviçais da roça.
É um edifício de dois pisos, com varandas nos pontos essenciais da casa, sendo o rés- do-chão marcado por um hall com uma majestosa escadaria, de guardas metálicas, e flanqueada com dois pilares em mármore que se diferenciam em relação a outros materiais presentes, como a madeira do lambrim e do tecto. Havia ainda no rés- do-chão, a copa, os escritórios, a cozinha e uma sala enorme, que se considera ser a do jantar. No piso superior existem as salas, os quartos e a casa de banho.

A casa grande/administração

A casa grande/administração

No hall da casa grande/administração

No hall de entrada da casa grande/administração

A sala do piso superior da casa

Traseiras da casa grande/administração ao fundo a cozinha

O que se torna nesse caso patente é que a casa de passagem não tem o programa de uma casa grande, com uma zona de recepção semiaberta, uma enorme sala de jantar, de um lado, e, do outro, vários compartimentos, o que demonstra fidelidade em termos estruturais da roça, mas que difere da actual casa grande, que tem o aspecto de uma casa grande mas com localização errada.
A justificação para este caso tem muito a ver com as mutações organizacionais da roça, a degradação dos edifícios e a mudança do programa dos edifícios. Isso somente foi explicado através dos primeiros registos iconográficos da roça , em que existia apenas um edifício no lugar onde está agora a casa de passagem, o que sugere que a antiga casa grande ficava mesmo no eixo da roça e que, devido à sua degradação, foi construída uma outra, para servir de casa grande.
Tudo deixa a entender que, depois da construção da nova casa, foi-lhe mudado o programa passando a casa de passagem, e onde já pernoitaram ilustres figuras, como Francisco Tenreiro, o Presidente português António Óscar de Fragoso Carmona e o Ministro das colónias Francisco José Vieira Machado durante a visita às ilhas no dia 25 de Julho em 1938.

Escritórios

Casa dos trabalhadores brancos

Nas cotas mais baixas organizam-se todos os equipamentos de produção da roça, como os armazéns, os secadores, as estufas, as oficinas, a bomba de combustível, as pequenas fábricas, os hangares das locomotivas e as garagens. É também nestas cotas que se situa a entrada secundária da roça, a de serviço, já que a principal se situa na cota intermédia, entre a casa grande e a de passagem, mais precisamente perto do jardim botânico.

Garagens e oficinas

Antiga bomba de Combustível

Antigo Secador

Interior da estufa de recepção do cacau

Entrada Principal da roça-a entrada do dono da roça

Em termos logísticos, a roça possuía uma das maiores linhas férreas da então província, que se estendiam às dependências, onde se ia buscar o cacau e café para serem tratados na sede. Dada a sua localização no interior da ilha, era-lhe impossível dispor de um porto, o que levou com que fosse implantado um porto a 8 quilómetros, numas das suas dependências, a de Fernão Dias.

Roça Fernão Dias-foto A.Maio