quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O CICLO DO CAFÉ E CACAU

Com a transferência da capital do Príncipe para São Tomé, em 1852, e a introdução das culturas do café e cacau inicia-se com a recolonização das ilhas de São Tomé e Príncipe, numa altura em que não viviam nas ilhas mais do que 7054 nativos crioulos, 5514 escravos e somente 185 brancos.
O café foi introduzido nas ilhas em 1787, mas só conseguiu ganhar importância no período anterior ao da introdução, em 1822, do cacau, a qual se consubstanciou em capitais resultantes do tráfico de escravos no Brasil, que, nessa mesma data, se tornou independente, tendo, em 1836, abolido a escravatura. Este facto contribuiu para que muitos traficantes apostassem na agricultura de plantação ilha, tendo como impulsionadores o Capitão-mor João Baptista da Silva Lagos, que introduziu o café a partir do Brasil (foram introduzidas duas espécies: o arábica, cultivado nas regiões de média altitude, e o libéria, cultivado na metade sul da ilha e noutras manchas para leste.


Capitão-mor João Baptista da Silva Lagos

Mas a cultura do café foi logo ultrapassada pela do cacau, cuja planta foi trazida para a ilha do Príncipe por José Ferreira Gomes (1781-1837), nascido no Brasil, proprietário de navios negreiros e Juiz supremo das ilhas, que a usou como planta ornamental (a semelhança do que acontecerá na Martinica) na roça que ficava sobre a margem esquerda da baía de Santo António (Príncipe), de nome Simaló.

José Ferreira Gomes


Roça Simalô na ilha do Príncipe

Finalmente, foi o afilhado de José Ferreira Gomes, João Maria de Sousa e Almeida (1816-1869) natural da ilha do Príncipe, descendente de uma família mestiça rica da Baía (Brasil), que tinha ido para a ilha do Príncipe no fim do século XVIII, cujos serviços prestados ao Estado, «nos tempos de D. Maria II e dos senhores Reis seus sucessores, foram muito importantes» , conforme se lê na Carta do respectivo brasão de armas, o primeiro produtor de cacau em São Tomé.


João Maria de Sousa Almeida-O Barão de Agua Izé


A João Maria de Sousa Almeida se deve o incentivo do cultivo de cacau e a introdução do cultivo da árvore Fruta-pão em S. Tomé. A família tinha na ilha do Prín-ipe o seu solar, possuindo o seu pai, o coronel Manuel de Vera Cruz e Almeida, importantes propriedades e exercendo nela grande influência. Ele que, aos 16 anos de idade, ocupara já funções de escrivão deputado dos negócios da Fazenda Pública, na capital da Província, muda-se depois para Benguela (Angola). Aos 23 anos, na cidade de Moçâmedes, onde se estabelece como comerciante (traficante de escravos), em pouco tempo ganha notoriedade e chega ao posto de Tenente-Coronel de voluntários, durante a revolta de Dombe Grande, merecendo a honra da alta distinção como Grau de Cavaleiro da Torre e Espada, por ter governado exemplar mente a província. Em 1845, viaja para Lisboa e, a partir da capital portuguesa, conhece posteriormente vários países europeus e o Brasil, onde acaba por se instalar e viver de perto a realidade das plantações. Apenas em 1853 regressa a São Tomé e começa a cultura do cacau, produto que ele chamava de “a árvore dos pobres”, o café, o tabaco e o óleo de palma. Por volta de 1855, produz cacau nos terrenos abandonados da Praia-Rei (Agua Izé), que havia comprado em hasta pública, em Lisboa, por 2000 reis, e, em 1858, publica no Boletim Oficial de S. Tomé e Príncipe (o primeiro órgão de informação impresso da antiga colónia, surgido em 1857), um estudo explicativo sobre o modo como devia o cacau ser plantado, colhido e conservado. Ganha assim, de imediato, o nome de distintíssimo agricultor, como lhe chamou outra grande figura das ilhas, Almada Negreiros, no seu livro “História Ethnográfica da ilha de S.thomé” (1895). Em 1862 já era conhecido como o benfeitor das ilhas, contribuindo na construção de estradas e na iluminação pública. Publicou artigos sobre a rentabilidade da policultura nas roças, oferecia sementes de algodão e plantas de fruta-pão para os agricultores semearem nas suas propriedades e propôs ao governo a construção de uma fortaleza de pedra e cal, com todas as despesas por sua conta, da mesma forma que tomava sob a sua responsabilidade o sustento e manutenção da guarnição que viesse a ocupa-la.
Mas o maior reconhecimento do seu contributo na dinamização da agricultura nas ilhas foi quando, em 16 de Abril de 1868, o Rei D. Luís o distinguiu com o título de Barão de Agua Izé e ocupou posteriormente o cargo de Presidente da Câmara Municipal da cidade de São Tomé. Mas a «árvore dos pobres» tornou-se, entretanto, a «árvore dos grandes», pelo facto de que a maior parte das terras que estavam, pelo menos até 1872, na posse dos forros ou nativos da terra ( 96 por cento dos 153 proprietários estavam ainda registados como sendo negros) foram compradas ou tiradas por fraude ou à força aos respectivos proprietários, a ponto de, em 1898, os roceiros brancos já possuírem 90 por cento das terras. Com a corrida às terras e à cultura do cacau, surgem os outros “apóstolos iniciadores da cruzada do moderno progresso e desenvolvimento económico e civilizador das ilhas de S.Tomé e Príncipe”, como os apelida Francisco Mantero no Inquérito sobre A mão-de-obra em S.Tomé e Príncipe: Manuel da Costa Pedreira (fundador da roça Monte Café), José Maria de Freitas (fundador das roças Belavista, Santarém e ilhéu das rolas), o conselheiro de João Maria de Sousa Almeida, Francisco de Assis Bellard (associado a Manuel Joaquim Teixeira fundador das roças Santa Margarida, Monte Macaco e Maianço) e o Dr. Gabriel de Bustamante, que lançou os fundamentos da roça Rio do Ouro, importando do Brasil, sua pátria, grande número de boas plantas e promovendo com cuidado as melhores culturas.

Francisco de Assis Bellard
Manuel da Costa Pedreira

Convém referir que, em meados do sec. XVIII, já havia 301 roças em S.Tomé e 234 no Príncipe, num total de 535 roças, verificando-se um número inferior de proprietários dessas mesmas roças, o que leva a concluir que muitos tinham mais do que uma propriedade agrícola.

Parte significativa desses proprietários eram militares34%), eclesiásticos (15%) e funcionários civis (16%). Em termos de mão-de-obra nas roças, para 26 agricultores contavam-se, em 1807, 1394 escravos, sendo a média de 54 escravos para cada um. No ano de 1909 verificou-se um aumento da população branca que chegou a registar 526 homens e 46 mulheres, dos quais 240 degradados, 10 degradadas e 56 soldados deportados. Foi o ano em que o cacau atingiu o seu máximo, com uma produção de 30.300 toneladas. Em 1913, a expansão do cacau abrangeu gran- des áreas, ocupando 62.500 hectares em São Tomé e, aproximadamente, mais de 10.000 hectares no Príncipe, tendo a exportação do produto atingido 36 000 toneladas Em 1919, a guerra fez acumular as colheitas em armazém, que reunidas e embarcadas num ano, chegaram a 55.000 toneladas. Na ocasião, as maiores roças possuíam centenas de “trabalhadores”e funcionavam como Estados dentro de um outro Estado, pois já tinham as suas infra-estruturas e eram quase autónomas em relação à administração colonial.

Concentração de propriedade roças pertencentes ao mesmo dono ou sob a mesma administraçao , Manuel Afonso 1971


2 comentários:

  1. Com cordeais cumprimentos,será que pode ajudar-me neste meu propósito: http://osbelard.blogspot.com

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  2. cONSEGUE SABER EM QUE ANO EMBARCOU mANUEL jOSÉ DA cOSTA pEDREIRA PARA s.tOMÉ?
    e SE PARTIU DO pORTO OU DE lISBOA E EM QUE NAVIO?
    mUITO AGRADECIA UMA RESPOSTA.
    aNA aREZ

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